sábado, 18 de dezembro de 2010

Cyclone II (Ensaio)

Posto aqui o ensaio que escrevi em conjunto sobre a Cyclone



Bandidismo Por uma Questão de Classe
Chico Science & Nação Zumbi

Há um tempo atrás se falava de bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão

Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabiluda
Biu do olho verde fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabiluda
Biu do olho verde fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate

Oi sobe morro, ladeira, córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava outros hoje ainda falam
"Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala"

Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fudido

Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabiluda
Biu do olho verde fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabiluda
Biu do olho verde fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate

Oi sobe morro, ladeira, córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava outros hoje ainda falam
"Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala"

Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fudido

Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade

Banditismo por uma questão de classe!
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe!
Banditismo por uma questão de classe!


UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ- UFC
INSTITUTO DE CULTURA E ARTE – ICA
CURSO DE ESTILISMO E MODA







LAURA NEFITALI
MEIRIANE NASCIMENTO
SÁLVIA BRAGA PINHEIRO




CYCLONE – A MARCA COMO DEMONSTRAÇÃO DE PODER E SIMBOLISMO NAS PERIFERIAS DO BRASIL













 FORTALEZA, 29 DE NOVEMBRO DE 2010










CYCLONE – A Marca como Demonstração de Poder e Simbolismo nas Periferias do Brasil.




Introdução

A desigualdade social é um dos aspectos mais visíveis por todo o vasto território brasileiro. Existe uma minoria que concentra uma grande parte da renda, enquanto que a maioria vive em situação de dificuldades financeiras ou mesmo de miséria.
Como diz a letra de uma música do Lobão intitulada Revanche, “A favela é a nova senzala”, lugar onde mão-de-obra do sistema capitalista dorme, depois de cumprir uma longa jornada de trabalho.
Nas teorias do sociólogo Pierre Bourdieu, encontramos conceitos como o da Violência Simbólica, que é exercido diariamente nessa guerra aparentemente imperceptível, a guerra das classes sociais, cujas minoria dominante subjuga a maioria dominada.
Toda essa violência simbólica causa diversas reações nas classes oprimidas, a mais comum é o desejo de alcançar certo status através da posse de objetos ostentatórios. O principal e mais primordial é a roupa. Vê-se um movimento muito grande das massas em busca de consumir cada vez mais. O poder de consumo tem proporcionado a essas massas um gosto de alcance, de vitória.
Mas não é somente desejo, o resultado de toda essa violência.  Sabe-se que as condições de trabalho oferecidas à massa de trabalhadores não é das melhores, e não tem mudado muito daqueles tempos do engenho para agora. Para as mulheres, continuam os trabalhos de cuidar de casa, já que a “patroa” não está acostumada com esse tipo de serviço. Para os homens, construção civil, carregar peso ou fazer os mesmos movimentos repetitivos em uma fábrica com condições desumanas. E o salário é inversamente proporcional à quantidade de trabalho. Trabalha-se muito para ganhar muito pouco.
Esse sistema tem causado a uma parcela de habitantes da “nova senzala” uma revolta, um escape desse sistema por meios também violentos, mas dessa vez, a violência não é simbólica, é física mesmo. Essas pessoas, geralmente jovens, já que seu tempo de vida é curto, tem recorrido a fugir dessa exploração trabalhista e tem sido mão-de-obra para o mundo do crime, atividade perigosa, porém, bem mais lucrativa que as outras oportunidades de trabalho para eles restantes.
Segundo relatos colhidos no documentário “Favela Rising” (2005), um “funcionário” de médio escalão do tráfico de drogas no Rio de Janeiro ganha cerca de dois mil reais por semana.
Esses meninos, que por muitas vezes cultivaram desejos, sonhos, vêem em atividades como o tráfico a oportunidade de mudar seu futuro, sua realidade, além de se inserirem em um grupo social organizado e atingirem certo prestígio dentro de suas comunidades.
Cria-se todo um mito em torno da figura do criminoso no interior das periferias, onde eles adquirem uma imagem de vencedores ou mesmo de heróis daquele local. Muitos meninos da favela, ao serem perguntados o que querem ser quando crescer não demonstram dúvida: bandido.
A partir desse contexto, temos o inicio da tentativa de diferenciação dos demais na busca por uma identidade e pela demonstração poder. Uma das principais diferenciações se faz através do vestuário, e então observaremos o quanto a marca “Cyclone” está inserida na vida desses jovens.


A Cyclone


A marca Cyclone existe desde 1984, quando o surfista Roberto Valério em viagens à Austrália e Hawaí, sentiu a necessidade de criar uma marca voltada para o surf wear legitimamente brasileira, hoje a Cyclone possui 30 linhas de produtos. A marca visava como público os surfistas brasileiros, mas caiu no gosto de moradores das periferias, freqüentadores de bailes funks, integrantes de torcidas organizadas e membros de facções criminosas, sendo hoje um identificador social. Geralmente os jovens à margem da sociedade usam Cyclone como forma de demonstrar quem são e de onde vêm.
Em uma pesquisa feita através de depoimentos pela internet – sim, grande parte deles tem acesso à internet – podemos perceber a importância da roupa na vida dessas pessoas. Ela tem a capacidade de demonstrar o poder sem que eles precisem abrir a boca, portanto, é um meio de comunicação poderosíssimo.
Segundo o depoimento de um blog fornecido pelo usuário 1domorro, nos anos 90, a facção criminosa Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, escolheu algumas roupas de marca para seus adeptos vestirem. A Cyclone foi a preferida, pelo fato de ser bastante cara e também por suas iniciais, CY, que quando escritas pareciam as iniciais da facção, CV(Comando Vermelho). Assim, começou a ser usada por pessoas que consentiam com a facção e foi se espalhando por outros locais do país.
A marca utiliza-se do rap e do funk como formas de mídia. Uma das letras diz repetidamente em formas de batidas do funk: “Andamos de Cyclone da cabeça aos pés”. Uma blusa da Cyclone custa cerca de cem reais, enquanto que as blusas de seus concorrentes variam entre vinte cinco e cinqüenta reais. A bermuda custa quase duzentos reais, e o boné, acessório essencial na composição dos usuários da marca, custa até quatrocentos reais. A conclusão é que para usar é preciso poder, quer dizer, é preciso dinheiro, que, no mundo capitalista em que vivemos, tem sido sinônimo de poder.
Segundo os usuários da marca, usá-la é uma forma de impor respeito. De acordo com chokito, “Cyclone não é marca de ladrão, agora, fazer o que se ladrão gosta de coisa boa?. Outro usuário complementa dizendo que: “O ladrão tem para gastar”.
Esteticamente e ideologicamente, a marca não tem conseguido se inserir nas camadas de classes mais ricas, por toda essa simbologia adquirida, que já é bastante forte.
             Bell diz que, a Cyclone os play respeita e passa mal, demonstrando assim que a marca tem causado certo incômodo à uma classe que teria condições de possuir a roupa mas que não adere por ter sido adotado por um público de classe oposta, independente da posse do dinheiro.
A roupa acaba exercendo certo medo em outras camadas da população, já que existe a imagem de que é roupa de criminoso e de que foi comprada através da exerção de atividades ilegais e criminosas como o roubo ou o tráfico. Alguns depoimentos que recebemos,em defesa aos que usam, diz que “Cyclone não é roupa de bandido, é a moda da gueto, e,com toda discriminação, impõe respeito.” Outro garoto diz que quando veste a Cyclone, se sente o rei.
Em relação a esses simbolismos que a moda lança na sociedade, Lipovetsky (2005), diz que: “ Ela (moda) não é mais tanto um setor específico e periférico, quanto uma forma geral em ação do todo social. Estamos imersos na moda um pouco em toda parte(...)”.

Conclusão
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            O consumo da marca Cyclone por pessoas da periferia evidencia um fenômeno cultural da sociedade de consumo vigente, o jovem se sente seduzido por todo aquele universo que o faz se sentir parte de algo, de um movimento, tendo pessoas que considera seus “semelhantes”, vivendo da mesma forma que a sua. Sentem-se aceitos dentro de um grupo, utilizando a marca para legitimar a identidade e trazer poder, simbolizando uma ascensção social, que, apesar de obtida através de meios marginalizados pela sociedade, é aceito dentro do grupo.
            “ A cultura é compartilhada socialmente e necessita que seja aceita pela maioria da sociedade. Isto resulta que os indivíduos que não possuem certos aspectos culturais podem assumir o risco de serem rejeitados(...)” Faggiani,(2006)
            Assim, para se sentir parte, para que sintam que também estão consumindo e que também são cidadãos e que fazem parte da sociedade, esses jovens demonstram suas revoltas contra esse sistema, mesmo que inconscientemente, e ainda aderem à sua forma,às suas escolhas, adotando uma marca como forma de se identificar entre si e para os outros, com todo um significado em torno, principalmente no que se refere à status financeiros.
            Mesmo não consentindo com o comportamento desses jovens, acreditamos que tudo seja resultado de uma má formação social, já que eles também têm desejos como todos os outros, e, diferentemente de alguns outros, nascem em meio à criminalidade, com a falta de um panorama adequado para que possam mudar suas realidades. Como diz a letra de Chico Science & Nação Zumbi, o bandidismo é gerado por uma questão de classe. Esse sentimento de inferioridade diante de outros membros da sociedade gera neles uma revolta. Como são vulneráveis e cultivam desejos, acabam arriscando suas vidas na perigosa atividade criminosa, que gera lucros, porém tira muitas vidas.


Bibliografia

BOURDIEU,Pierre. A Distinção. Ed. Zahar, SãoPaulo, SP, 2008
FAGGIANI, Kátia. O Poder do Design, da Ostentação à Emoção. Ed. Thesaurus, SãoPaulo,SP, 2006.
LIPOVETSKY, Gilles. Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. Ed. Companhia das Letras. São Paulo, SP, 1989
RIBEIRO, Darcy,O Povo Brasileiro.Ed, Schwarcz, São Paulo, SP. 2008
Sites:
PINHEIRO, Sálvia. euseieuvietal.blogspot.com/2010/09/cyclone.html . Fortaleza, Ce, 2010
Filmes:
Direção: Matt Mochary e Jeff Zimbalist. Favela Rising. Rio de janeiro, RJ. 2005

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