domingo, 11 de julho de 2010

Tom Zé

Depois de ver "Tom Zé ou quem irá colocar uma dinamite na cabeça do século?", não dá pra pensar em outra coisa...hoje vou ter que falar dele.
Bom, minha paixão por música fica um pouco lá pra trás, dos anos 80 pra lá. E um dos poucos talentos que me valem muito à pena, é esse senhor de 74 anos. Quem diria, nessa idade ainda faz tudo que faz?
Poucas vezes se vê uma mente tão inventiva e artística como a de Tom Zé, e junto a isso, estavam ao lado dele na época em que começava nada mais nada menos que Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, com os quais vai fundar o movimento tropicalista.
Nascido em Irará, cidade do interior da Bahia, mudou-se pra capital para estudar e fez música na federal da Bahia, encontrando-se com grande músicos que foram seus professores e contribuíram em grande parte para sua formação musical e intelectual.
Em 1968, ganha o prêmio de melhor música do festival da Record, que era o que todo músico mais desejava naquela época.
E foi a partir daí, depois de uma crítica recebida de Edu Lobo, que, segundo o próprio Tom Zé em depoimento para o documentário, começa a entrar em uma espécie de piração. É engraçado quando ele diz que queria que prêmio fosse como uma asma. Porque quando era criança, que estava com asma, a mãe o colocava no colo, fazia todas as suas vontades, dava chasinho, e então ele era  o rei. e quando ganhou o prêmio, esperava ser acolhido da mesma forma, e quando recebeu a primeira crítica ( uma leve crítica, diga-se de passagem) não estava preparado. E tem a coragem de dizer que a partir daí até os anos 90, vai sabotar o seu trabalho. Afirmação essa que não concordo nenhum pouco. E, se me dá licença, Zé, vou até agradecer ao Edu Lobo por ter causado esta mudança na sua música.
È claro que Tom Zé já era muito bom no álbum de 1968, onde temos músicas com São São Paulo, Namorinho de Portão, Não Buzine que eu Estou paquerando, Parque Industrial e Quero Sambar Meu Bem.
Mas é depois daí que ele deixa de ser, digamos, um bunda branca e hoje poderia ser mais um caetano, mais um Gil, mais uma Bethânia (não que esses não foram maravilhosos em seus devidos momentos), mas é dái que ele vai buscar um lado mais contestador, alternativo, experimentalista, autêntico, áspero e genial. (me faltam um pouco as palavras pra definir)
Mas como ele pode dizer que se sabotou com Qualquer Bobagem ? Música que se basta pra um disco só. E junto dela Jimmy Renda-se, o começo de um experimentalismo (ele não gosta dessa expressão) que se repetiria por toda sua carreira.
Mas aí vem o disco Tom Zé de 1972, que eu tenho o vinil em casa e não me canso de ouvir com músicas com Menina Amanhã de Manhã, Dor e Dor, Senhor Cidadão, A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel (quer idéia melhor que essa??) e Se o caso é Chorar, entre outras. Louco ele tava mesmo, mas de achar que tudo isso não é mais que maravilhoso.
O mais difícil de assistir o documentário é ouvir as músicas e não dançar, porque tudo aquilo em envolvia de uma forma tão mágica e aquela música era tão boa e tão envolvente...mas aquilo não era Rocky Horror Show pra eu me levantar da poltrona do cinema e dançar...mas aguardo ansiosamente mais o show de meu querido Tom Zé pra dançar o Xique-Xique.
Fui no último show que ele fez aqui, um dos melhores shows da minha vida. É que é bem mais que um show de música. Quando ele fala é maravilhoso. Ele além de tudo é um cara muuuito inteligente. Mais que intelecto, tem uma perspicácia maravilhosa. E se rebola pra agradar o público, não é um Caetano, que se acha e fica quase que passivo em cima do palco. e as conclusões dele sobre o verdadeiro significado da música popular O Cravo e a Rosa?
Ele nos abre os olhos para o fato de que a  música não é bem assim tão infantil e inocente como costumamos imaginar
vamos lá:
O cravo brigou com a rosa
-o que seria essa briga desses dois?
Debaixo de uma sacada
-escondidinhos, hein?
O cravo saíu ferido
-Huum...
E a rosa despetalada
-Foi mesmo?
Ai que em meus 74 anos eu tenha metade dessa energia...
Continuando...
Em 1973, o disco Todos os Olhos, trazia um...cu na capa, com uma bila(bola de gude)
introduzida em sua superfície, simulando um olho

Maravilhosa idéia (mais uma vez eu falando isso, porque será?)
E nesse disco, músicas como Brigitte Bardot, Augusta, Angélica e Consolação(ele fala das três ruas de São Paulo como se fossem mulheres) e Um Oh e um Ah.
Esse álbum, como se pode imaginar, não teve boa aceitação, e afastou ainda mais Tom Zé da mídia brasileira.
Em um momento do filme, a diretora pergunta o significado de uma dessas palavras inventadas por ele nas músicas. E ele diz que não havia encontrado uma palavra adequada pra definir uma festa e tinha inventado aquela palavra. Os nomes das músicas do álbum Estudando o Samba são bem assim: Mã, TOC, Tô, Vai!, Ui!...
E foi esse álbum que David Byrne, guitarrista da banda Talking Heads encontrou em um sebo e ficou fascinado com o trabalho do músico. Ele até fala no filme que, também por essas palavras inventadas e inexistentes, suas músicas são fáceis de ser aceitas em outros países, pois não precisa entender, basta ouvir. E pra sorte do nosso baiano, David Byrne o lançou no exterior com o disco de sua produção, "The best of Tom Zé" de 1990, que foi aclamado pela crítica e que ficou entre os 10 melhores da década em todo o mundo. sabe, gosto muito do Brasil e de ser brasileira, mas é decepcionante perceber o nível de ignorância do nosso povo, que tem um cara com o talento dele aqui e que pra que se perceba isso, o cara precisa ir pra fora. Apenas em 1999 Tom Zé volta a fazer algum sucesso no Brasil, com o CD "Com Defeito de Fabricação no Brasil". E trabalha duro, fazendo maravilhas em seus shows, para pagar as prestações de seu apartamento.
E Zezé de Camargo e Luciano, cheios de mansão e carros importados?
Recomendo muito a todos que não viram o documentário "Tom Zé ou quem irá colocar uma dinamite na cabeça do século?", que assistam, além de ser uma maravilhosa maneira de ver Tom Zé, a diretora faz um ótimo trabalho, até direção de arte e figurinos são bons, e é fácil e encontrar, é só dar uma googlada que tem pra baixar ou pra assistir no Youtube. e pra quem não conhece as músicas, recomendo demais que se ouça pelo menos as que foram citadas aqui.

4 comentários:

  1. Oi Sálvia!

    Gostaria de saber se tu pode me passar o link para baixar o filme? Não consegui achar no google....

    obrigado,

    miguel.baierle@gmail.com

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  2. Olá, Sálvia! Parabéns por sua paixão e reconhecimento, o Tom merece tudo o que você disse e muito mais... A propósito, também procuro desesperadamente esse documentário, porém só encontro fragmentos de alguns trechos. Se você o tiver ou souber como possamos conseguí-lo eu e o mundo agradeceríamos deveras! Att, Raphael - Curitiba - Paraná - Brasil.

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  3. Gostaria de saber se você tem essa crítica de Edu Lobo depois do festival da Record em vídeo, ou escrita, ou até mesmo algum comentário recente do Edu sobre essa crítica.

    Abraço, Raul - Jacobina-BA

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  4. Amei a matéria, adoro Tom Zé, Parabéns

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