quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Resenha Walter Benjamim

Acabei de fazer uma resenha do ensaio do Walter Benjamim, "A Obra de Arte na Era e sua Reprodutibilidade Técnica", e, como achei que o texto foi de grande importância pra minha vida, acho que pode ser muito importante também pra mais alguéns, e por isso compartilho aqui com vocês, a resenha poderia estar melhor, mas confesso que no final já estava dando um soninho.. então, se alguem tiver mais preguiça que eu e precisar dessa resenha, podem roubar, eu deixo, adoro compartilhar com atos "subversivos"
Ah, ouvi falar hoje que talvez Caetano não participe de nosso Reveillón =/. não é certo mas...Tem problema, não, titio Jorge dá conta do recado
Leiam, é muito bacaninha - claro, leia se gostar de arte, cinema e conhecimento.


BENJAMIM, Walter. Obras Escolhidas Vol.1 – Magia e Técnica, Arte e política. Ed. Brasiliense. 11ª reimpressão.São Paulo – SP, 2008

Walter Benjamim, em seu ensaio “A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica”, vai fazer uma análise sobre as tendências evolutivas da arte nas atuais condições de produção capitalista que se baseiam na exploração do proletariado, como Marx já havia previsto.
O novo panorama artístico põe de lado conceitos tradicionais como a criatividade, gênio, validade eterna, forma e conteúdo, já que a arte evolui junto com a humanidade, e diante de uma nova estrutura social, é natural que se apresente também uma nova forma de expressar e receber a arte.
A obra de arte sempre foi reprodutível. O que se apresenta como novo é a sua reprodutibilidade técnica, que vem evoluindo ao longo da história. A xilogravura se apresentou como um grande avanço na reprodução técnica do desenho, depois veio a litografia, que proporcionou a reprodução em massa de figuras na imprensa e a criação de novas formas de modo mais acessível. Surge então a fotografia, e pela primeira vez na história, a mão era liberada da responsabilidade artística, dando lugar ao olho, que tem a capacidade de aprender mais depressa do que o desenho manual. Dessa forma, o processo de aceleração das imagens experimentou uma profunda aceleração.
No início do século retrasado, inicia-se a reprodução técnica do som, com ela a reprodução técnica atingiu um padrão de qualidade que conquistou para si, junto a uma grande revolução, um lugar próprio entre os procedimentos artísticos.
Benjamim desenvolve o conceito de aura, que se constitui no “aqui” e “agora” de um objeto. Para ele, na reprodução técnica, por mais perfeita que ela seja, está ausente esse caráter, e por isso, sua aura. Para Benjamim nesse aqui e agora está contido a autenticidade da obra de arte. E assim, na reprodutibilidade técnica, a obra perde sua autenticidade.
Em contrapartida, o autor defende que com a reprodução técnica a obra de arte ganha em autonomia e se aproxima do indivíduo. O que se atrofia na era da reprodutibilidade técnica é a sua aura. Mas veremos o quanto essa aura tem tido pouco importância para as massas.
Com a reprodutibilidade técnica, a humanidade sofre um violento abalo na tradição, juntamente com sua renovação. O agente mais poderoso desse processo é o cinema.
Sabemos que ao longo da história, em meio às diversas mudanças e acontecimentos, a humanidade se transforma juntamente com suas formas de percepção, que são condicionadas também historicamente. A situação se ilustra ao observarmos as mudanças na arte ao longo dos tempos. Na contemporaneidade, o grande desafio é compreender o que levou a arte ao declínio da aura.
Na era das massas, a aura se extingue para que se atinja uma maior proximidade dessas massas através da reprodutibilidade. O objeto é retirado de seu invólucro e ele se transporta para um público, mesmo que esteja ausente sua autenticidade, com a produção de sua cópia ou reprodução de sua imagem.
As obras de arte mais antigas surgiram a serviço do ritual. Essa aura sempre esteve ligada à função ritualística da arte. A reprodutibilidade técnica vai emancipar, pela primeira vez na história, a arte se sua função de ritual. Com isso, modifica-se também sua função social e passa a atuar na esfera política.
Com o advento da fotografia a arte pressentia o início de uma crise, que viria a se aprofundar nos cem anos seguintes. Sua reação foi a inseminação de uma nova visão: a inserção da estética da “arte pela arte”, considerada uma teologia da arte.
Nesse novo estágio, o valor de culto começa a recuar diante do valor de exposição. O retrato, que pode ser considerado um culto ao rosto humano, é um fator de resistência nesse sentido. O retrato era o tema principal nas primeiras fotografias.  Quando o homem se retira da fotografia, o valor de exposição supera pela primeira vez o valor de culto.
Com a emancipação da fotografia para outros temas, como a fotografia de paisagens ausentes de pessoas, a obra ganha uma significação política. As imagens vão orientar a percepção num sentido predeterminado. Elas induzem o observador a seguir um caminho predefinido para se aproximar delas. Essa determinação é ainda mais precisa e imperiosa no cinema, em que a compreensão de cada imagem é condicionada pela seqüência das imagens anteriores.
No século XIX, passou-se muito tempo a se discutir o real valor artístico da fotografia em comparação à pintura. A polêmica foi, na realidade, a expressão de uma transformação histórica. A época não se deu conta da refuncionalização da arte. Porém, a invenção da fotografia vai alterar a própria natureza da arte e causar diversas transformações nesse setor. Um grande exemplo disso são movimentos como o impressionismo, que revolucionava a maneira se apresentar a imagem, de uma forma totalmente nova.
Mas tudo isso é só o começo para o que viria com o surgimento do cinema, que causou grandes reações de teóricos, que faziam um esforço para ligar o cinema erradamente ao culto.
No cinema, a reprodutibilidade técnica se torna obrigatória para sua existência. Enquanto que um quadro poderia ser comprado por uma pessoa que o colocaria em sua casa para exibição privada, com o cinema isso não acontece. O filme é uma coleção da criatividade, feito pensando nas massas, na era das massas e para as massas.
Voltando no tempo, podemos perceber que a produção artística começa a serviço da magia. O que importava nas criações era sua existência, e não que elas fossem vistas. Na atualidade, a esponibilidade é uma condição para a legitimidade da arte.
Assim, como Christian Metz, Benjamim também cita o fato de que no cinema os cidadãos comuns, trabalhadores desse sistema, se alienam de sua humanidade, ou, como fala Metz, de sua realidade. “Com a representação do homem pelo aparelho, a autoalienação humana encontrou uma aplicação altamente criadora.” (p.180 – grifo do autor)
A natureza ilusionística do cinema está inserida em seu processo de montagem, que leva ao cinema seu caráter de perfeição, já que é uma arte totalmente controlada, um procedimento puramente técnico.
O grande empecilho para que o cinema se torne uma ferramenta eficazmente política é sua exploração pelo capital. O capital cinematográfico dá um caráter contrarevolucionário às oportunidades revolucionárias imanentes a esse controle. Esse capital vai estimular uma nova forma de culto – o do estrelato, e por conseqüência, o do público.
Porém, com todo esse advento do cinema no capitalismo, vemos também, uma parte dessa massa excluída desse fenômeno cinematográfico, com a falta de condição de consumir ou mesmo compreender o cinema. Mesmo assim, a indústria cinematográfica tem todo o interesse de estimular a participação das massas através de concepções ilusórias e especulativas, com o uso do aparelho publicitário, podo a serviço a carreira e a vida pessoal das estrelas, corrompendo o interesse original das massas pelo cinema, se tornando também um interesse em sua consciência de classe.
Na arte contemporânea, quanto mais ela se afastar da original e se orientar à sua reprodutibilidade técnica, maior será sua eficácia, já que a demanda agora é por quantidade – quanto mais pessoas atingir, mais perto estará de seu objetivo. Talvez por todos esses fatores já acima referidos, a arte dramática se encontre em crise nesse sistema.
Em uma comparação com a arte pictórica, o autor fala de uma distancia existente entre o pintor, sua obra e a realidade, enquanto que o cinema penetra profundamente no corpo da realidade. Para o homem moderno, a descrição cinematográfica da realidade é muito mais significativa que a da pintura, porque ela oferece uma realidade livre de qualquer manipulação, graças a seu procedimento de penetrar, através do aparelho, na realidade.
Com o cinema, a arte se torna mais progressista. Essa virtude está ligada entre o prazer de ver e sentir por um lado  e a atitude especialista de outro.Quanto mais se reduz a significação social de uma arte, maior fica a distancia, no publico, entre a atitude de fruição e a atitude crítica.
Nessa relação homem aparelho, o homem representa não apenas a si mesmo, mas ao próprio mundo, fazendo-nos vislumbrar os condicionamentos de nossa existência. O cinema nos abre pela primeira vez o fenômeno do inconsciente ótico, que nos faz acreditar na ilusão da realidade proposta, que por trás das câmeras corresponde a luzes, aparelhos, maquiadores, equipe técnica, cortes, tomadas. E que à frente de nossos olhos parece um  novo mundo de sonhos.
Enquanto que as massas procuram na obra de arte distração, o conhecedor vai atrás de recolhimento. Para as massas a obra de arte é objeto de diversão, e para o conhecedor, objeto de devoção. Quem se recolhe diante de uma obra de arte, mergulha nela e nela se dissolve. A massa, distraída, faz a obra mergulhar dentro de si. O cinema se encaixa perfeitamente na demanda dessas massas, oferecendo uma dominante tátil de distração.
Benjamim conclui que o cinema é atualmente o objeto de maior importância  dentro da ciência da percepção que os gregos denominavam estética, já que ele penetra profundamente na aura da sensibilidade das pessoas, tendo a capacidade de tocar as massas mais imunes de sensibilidade.


 Buenas, Tchaaau

5 comentários: