Vamos ao filme:
O longa-metragem de Hilda Hidalgo é baseado na obra de Gabriel García Marquez, de quem a diretora já foi aluna.
Eu que já estou acostumada à leitura do autor, senti muito a presença da Hilda, porque o filme contava com uma certa, digamos, sensibilidade feminina.
O filme se passa em uma pequena cidade latino-americana colonizada pelos espanhóis onde é imposto aos povos indígenas que lá viviam a cultura e a religião católica, banindo também os costumes dos africanos que lá chegavam como escravos.
A protagonista, vivida pela atriz Eliza Triana, que durante as filmagens tinha apenas 13 anos e fazia então seu primeiro filme, é uma linda menina com uma vasta cabeleira ruiva de mais de um metro (bem a cara de García Marques) , filha de marquês foi criada por escravos, falando a língua africana e adotando seus costumes, e de quem herda o lado espiritual, sensual e desconfiado.
Ao andar no mercado, a menina é mordida por um cão raivoso e alguns dias depois começa a apresentar sintomas da doença, quando é levada a um convento para se isolar da sociedade. Lá é trancada em uma cela e dada como possuída por um demônio. Qualquer movimento da menina faz as freiras do convento tremer pensando ser manifestações de um demônio.
O bispo da cidade encarrega seu assistente de cuidar da menina, que vai percebendo a inexistências de um demônio onde existe apenas a aflição de uma garota. Todos os dias o (belo) padre vai cuidar da menina, que toma seus pensamentos e seus sonhos.
Percebe-se através do texto a temática religiosa, uma crítica á igreja católica que condena a menina por sua convivência com os africanos, que condena o médico que a tratou por usar de curas através de ervas aprendida com os índios, e através da personagem que fica na cela ao lado da garota. No momento em que o padre ia visitar a cela da menina, ele olha através das grades para a cela ao lado, e as freiras logo avisam que ali tem uma mulher perigosa, que já matou duas companheiras de cela e estava trancada ali ao lado.
A mulher de aparência um pouco assustadora passa a frequentar à noite a cela da menina, que não sente medo e se torna amiga da "perigosa" companheira de cela, que vai lhe falar de suas idéias, vai lhe falar que não existe Deus ou demônio, só existe o que se vê. Talvez por isso, e não por ter matado alguém, aquela mulher estivesse ali a tantos anos.
Não se colocaria um ator como pablo Derqui á toa, para sair no 0x0. O belo ator faz Cayetano, um teólogo que está sempre ao lado do bispo, que segue a carreira religiosa, até que a presença de Sierva María o faz balançar antes mesmo de a conhecer pessoalmente.
Então o título é muito bem encaixado, porque além da temática religosa, da crítica às idéias da igreja católica, ele fala (não sei se primeiramente ou secundariamente) do amor, o amor romântico, que segundo Woody Allen, é aquele amor que não pode ser realizado. Amor de almas gêmeas, que sonham o mesmo sonho, que se contentam com a presença, em dizer que amam. É muito bonita a interpretação dos dois juntos, do olhar do padre, que abre mão da batina para viver aquele sentimento.
E hoje tem filme ceraense entre os longas: Estrada para Ythaca, às 20hs
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