domingo, 18 de abril de 2010

Filme: Wood & Stock




Cheguei atrasada pro Cine Ceará de 2006. Na sala de cinema, um desenho se passava: fogos de artifícios explodiam no céu, desenhos psicodélicos, o plano se abria para os personagens e descobríamos que tudo não se passava de uma viagem de LSD, várias pessoas estavam no chão em meio a garrafas vazias e outras coisas mais. Todos aplaudiram no final, e quando as luzes se acenderam, pude ver muita gente conhecida saindo satisfeita. Pensava: que merda, não levo sorte mesmo...aconteceu o mesmo no ano passado quando cheguei atrasada e não vi A carne é Fraca. Decidi então que veria esse filme. Ia na locadora, via tantas outras coisas e sempre deixava de lado - se é que eu o via. Com a falta de locadoras mais perto de casa - e com essa minha temporada mais caseira - comecei a ir mais na Cinéfilo - locadora pequena, mas com boas opções- ia na seção de brasileiros e sempre via " Sexo, Orégano e Rock and Roll" -Ah, aquele filme! Qualquer dia eu pego ele. Foram umas três vezes assim, até que não fui - meu irmão foi por mim e perguntou o que que eu queria, falei - traz aqule do Sexo, Orégano e Rock and Roll. E ele: -Mó paia. Não.
Ele trouxe.
Logo no Menu começo a trilha do Júpiter maçã: "Nós gostamos das mesmas coisas...mas meu amor a gente junto não rola". E assim vai rolando uma simpatia.
Começo igual ao final - fogos de artifício - virada do ano de 1972, a mesma viagem de LSD com imagens psicodélica e todo mundo acordando nu em meio a garrafas e tal...
Trinta anos se passam e lá estão os bichos grilos casados. Lady Jane, mulher de Wood, em meio a tarots e mapas astrais tem cuidado muito bem do lar, até que uma previsão astrológica a faz mudar os rumos de sua vida. Ela decide deixar a casa nas mãos de Wood e o filho e vai até algum "vale do paraíso", para uma comunidade alternativa liderada por um guru que segue o Kama Sutra. A casa vira um grande lixo e pra tudo melhorar, Stock, um velho amigo de Wood chega pra fazer companhia. O filho de Wood fica atordoado e com muita vergonha de contar aos amigos que é filho de um casal hippie, até que acha uma menina que sofre do mesmo mal pra desabafar. Meias nas antenas da televisão, ratos no armário e monstro na geladeira, a casa vai se deteriorando na ausência de Lady Jane. O orégano de fumar acaba, o que faz Wood e Stock irem atrás de um emprego. No balcão de emprego perguntam a Wood: você tem alguma experiência? o que que você sabe fazer? - Cachimbinho de Durepoxi. - Mas pra que serve esse cachimbinho? É pra queimar fumo. Tentativa fracassada de arranjar um emprego, os dois decidem encher a cara em um bar. Começa uma das melhores partes do filme quando Wood tem uma 'visage' de Raul Seixas no copo de cerveja . -Quem é você cara? -Eu sou a mosca que pousou na sua sopa.
mesmo não sendo muito chegada ao raulzito, não tem como não se apaixonar por um Raul Seixas vivificado pelo arrastado sotaque baiano de Tom Zé. Maravilhoso. Raul sai do copo e se enxuga da cerveja dizendo: -Minha já me dizia pra eu sair sem me molhar e a genial -A formiga só trabalha porque não sabe cantaaar. raul dá o conselho 'faz o que tu queres pois é tudo da lei" quando aparece na televisão do bar o anúncio de um festival de rock. Wood resolve ressuscitar a velha banda pra poder voltar a fuma seu orégano numa boa. Num encontro com um ex-integrante da banda, descobre que o ex vocalista morreu, mas o cara descola um porco pra cantar no seu lugar. Talvez essa parte seja uma crítica àquelas bandas de hard core ou sei lá o que onde só se ouve grito - o vocal do porco é genial nesse sentido. Mas eles perdem o festival.
Aparece de vez em quando a Rê Bordosa, personagem do Angeli (como todos esses outros) que já havia morrido, então, no filme ela é uma espécie de fantasma depravado e ressaqueado, sempre com um cigarro no bico. Não posso deixar de citar que a personagem conta com a voz de Rita Lee... Lady Jane volta quando Rê Bordosa já está morando na casa. O filho do casal decide trocar de lugar com um nerd da escola que quer ver todo mundo andando nu na casa do menino. Bom que nem os pais do Nerd nem o casal protagonista percebe a troca. E Lady Jane volta doidona, faz festa, tranza com Stock, usa calcinha do Elton Jhon que canta, tira as cartas tomando um banho na banheira com Rê Bordosa, dá aulas de sexo tântrico... Mas o que faz o filme valer à pena é a apresentação final do festival, quando Stock pergunta: -Vocês querem rock'n'roll repetidamente sem saber o que fazer e aparece Lady Jane que manda um maravilhoso "Lugar do caralho".
Se tivesse visto o filme em 2006 talvez tivesse curtido mais a idéia do filme, aos 18 anos, mente um pouco mais aberta a essas loucuras...mas o bom de assistir agora é que pude perceber a genialiade da trilha sonora, que conta com nada mais nada menos que seis músicas do Júpiter Maçã, além de Arnaldo Batista, Tom Zé, Novos Baianos, Rita Lee, dentre outros que ainda não conheço, mas que foram liberados pela Baratos e Afins, como uma banda chamada Mopho. inacreditável ver tanta coisa boa junto. Coisa boa talvez não ande separada, quando a gente acha é tudo junto mesmo, num tem jeito.
Bom também pra quem curte e tá por dentro do universo dos quadrinhos, já que o desenho animado pra adultos faz várias referências a personagens e episódios passados. Não posso esquecer:
A direção é de Otto Guerra, o roteiro de Rodrigo John e os personagens de Angeli.

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