terça-feira, 24 de agosto de 2010

Tentativa Jean Baudrillard

A escrita desse sociólogo, poeta e fotógrafo francês não é das mais simples e me tirou um pouco do sério nesses últimos dias que eu tentava terminar o texto pra apresentar um seminário, mas é essencial na teorização da moda. Em quase tudo que li no que se referia ao social da moda, o nome dele estava lá. Então, vamos nessa, que no final das contas, se tornou essencial a mim também. Sou uma nova pessoa depois de ter lido.
primeiramente, já que é o assunto principal, vou definir um pouco o signo.
De acordo com Saussure, o signo é formado pelo significante e seu significado, é qualquer unidade significativa, de qualquer linguagem , resultante de uma união solidária entre significante e significado.
Significante: Forma gráfica + som. Imagem, acúsitca ou manifestação fônica do signo linguístico.
Significado: conceito. Valor, sentido ou conteúdo semântico de um signo linguístico.






A MODA OU A MAGIA DO CÓDIGO

Frivolidade do já conhecido


O autor vem falar que o privilégio da moda é de que nela, a resolução do mundo já é algo definitivo, de que o jogo diferencial, se torna na moda algo deslumbrante, quase mágico.
Tudo com base na ideia dos signos, de que as representações espalhadas pela moda são dotadas de significados que distribuem um código social entendido pelas pessoas.
 Estes signos não possuem determinação interna. A moda das coisas, dos corpos e dos objetos, são os chamados signos leves. Já a política, a moral, economia, cultura e sexualidade são signos pesados. Assim, os primeiros ficam livres para se transformar, se modificar constantemente. Em nenhum lugar o princípio da comutação age com tanta liberdade quanto na moda.
De qualquer forma, todas essas esferas, façam elas parte dos signos leves ou pesados, são, para o autor, assombradas pela moda, que é para ele a forma social mais profunda.
A moda nos impõe a ruptura da razão referencial. A razão cai no golpe referencial da alternância pura e simples dos signos.
O autor falar então de uma queda de todos os setores para a esfera da mercadoria, mas de uma queda mais forte ainda de todos esses setores para a esfera da moda. "Sob o signo da mercadoria, o tempo se acumula como dinheiro - sob o signo da moda, ele é interrompido e descontinuado em ciclos emaranhados".
Parece uma idéia tão contemporânea que fica meio doido a gente pensar que foi escrita há mais de 25 anos atrás. Não faz tanto tempo assim, mas é que as coisas antes pareciam mais vagarosas e ajustadas.
"A moda é sempre retrô, mas baseada na abolição do passado." É sempre esse paradoxo entre o velho e o novo. "Ela constitui o desespero de que nada dure, bem como o enlevo inverso de saber que, para além dessa morte, toda forma tem sempre a chance de uma existência segunda, nunca inocente..."

A "Estrutura" da Moda


A moda só existe no quadro da modernidade. Tanto que uma palavra deriva da outra.
A modernidade instaura simultâneamente um tempo linear, que é o do progresso, das tecnologias, e um tempo cíclico, que é o da moda.
Ele vai falar também da vulgarização nos campos científicos e culturais. Também nessas esferas é possível encontrar o jogo da simulação e da inovação combinatória.

A Flutuação dos Signos


A moda trata-se do único sistema de signos universalizável. Ela é uma flutuação de signos, estado especulativo puro.
É por essa indeterminação recorrente à moda que ela foge do ciclo linear e contínuo. Ela destrói a lógica da ordem e do belo, do previsível e determinante.

A "Pulsão" de Moda

Mais que mexer com os desejos, o próprio desejo já está na moda. Existe uma pulsão coletiva que age tão violentamente, "que nenhuma interdição conseguiu ser-lhe imposta".
"Desejo de abolição dos sentidos e de imersão nos signos puros, rumo a uma sociabilidade bruta, imediata.
É interessante quando ele fala que a moda conserva uma sociabilidade radical no que concerne à partilha dos signos, primeiramente imperceptível, mas que governa nossas ações quase que no inconsciente.
Para La Brueyére, o gosto pelas coisas vai além do que é bom ou ruim, as pessoas gostam do que é mais difícil de se obter, e logo que um signo se torna de fácil acesso, surge um novo signo de mais difícil apropriação, e surge junto o desejo, muito Bourdieu!
Para Oscar Wilde, a moda dá "ao homem uma segurança que sequer a religião lhe deu um dia"
"Paixão coletiva. Paixão dos signos..."
"Sem conteúdo, a moda se torna então o espetáculo que os homens dão a si mesmos do poder que têm de fazer significar o insignificante."(Barthes, Systeme de la mode)
Enquanto o cálculo econômico isola umas pessoas das outras, a moda é espontaneamente contagiosa, movida pela paixão, que não se baseia no feio e no belo, de ordem incoerente, inexplicável.
"É essa imoralidade no tocante a todos os critérios, essa frivolidade que dá à moda por vezes sua força subversiva e que faz dela um fato social total."
"A moda, assim como a linguagem, visa de imediato à sociabilidade." Porém a moda visa uma sociabilidade tetaral, uma simulação, espelho de um desejo de sua própria imagem. A linguagem visa a comunicação, a moda joga com a signifcação.
A moda é o lado encantador da mercadoria e da simulação, do código e da lei.

O Sexo Modificado


Baudrillard teoriza  sobre a paixão pelo artificial e pela futilidade, que vem sendo mais importante  que a pulsão sexual, já que a sexualidade atual tem investido na roupa, maquiagem e na artificialidade do corpo. A moda, que já teve a função de máscara pura em outros tempos, tem como função atual a significação do corpo.
"Na nossa cultura fixada no princípio de utilidade, a futilidade age como transgressão, como violência, sendo a moda condenada por esse poder nela existente do signo puro que nada significa."
Assiste-se um progresso da moda paralelo à certa emancipação da mulher, que perde perde o caráter na moda de um corpo escondido e de um sexo reprimido. Assim, toda a sociedade se feminiza à medida que as mulheres saem de sua discriminação.
"A mulher é separada de si mesmo e do seu corpo sob o signo da beleza e do princípio do prazer."
"A moda é imoral...ela nada conhece dos sistemas de valor nem dos critérios de julgamento: o bem ou o mal, o belo ou o feio, o racional/o racional - ela opera aquém ou além, funciona pois, como subversão de toda ordem..."
não há subversão possível na moda, ela é a relatividade de todos os signos. Não há como escapar dela, porque a própria tentativa de recusa já é um traço da moda -"o jeans é um exemplo histórico disso".





A Troca Simbólica e a Morte, de Jean Baudrillard, São Paulo, Loyola, 1986

Nenhum comentário:

Postar um comentário