segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Abajur Lilás

Cartaz da peça

Como falei por aqui, o VI Festival de Teatro de Fortaleza está acontecendo.
Oportunidade boa pra quem curte teatro e também pra quem nunca costuma ir - até porque é de graça, bom para que cada um tire suas próprias conclusões sobre o teatro cearense.
A forma de espetáculos mais antiga do mundo tem perdido um pouco a audiência pra outras mídias. Mas nada se compara a estar presente no momento do ato, reagir e mandar a reação aos que fazem o espetáculo.
Bom, que me desculpe os que não concordam, mas acho que o teatro cearense ainda precisa de muito arroz com feijão.
Comecemos pelo texto: escrito em 1969 por Plínio Marcos, em épocas de censura, o texto faz referências à ditadura de uma forma bem simbólica, através do cotidiano de um um cabaré, onde o cafetão tortura suas prostitutas para que elas digam quem quebrou o abajur lilás que intitula a obra. O texto foi proibído em 1970 e permaneceu na gaveta por uma década - a proibição dizia que o texto atentava contra a moral e os bons costumes. Hoje é mais que uma peça, é uma bandeira que simboliza a luta contra a ditadura.
A companhia, o Grupo Imagens, já merece muitos pontos por ter ousado e trazido à nossa cidade tão provinciana o texto de Plínio Marcoss, considerado tão ou mais maldito que Nelson Rodrigues, por mostrar uma realidade marginalizada a que os intelectuais e artístas da época não ousavam penetrar. È dele a frase "eu só vim pra incomodar". E é desse tipo de sacudida que nossa cidade precisa. Chega de puritanismo e chega da ridícula sacanegem do humor cearense. Espetáculos como esse já vi, mas sempre no underground, fora dos circuitos comercias. E o Abajur já está em cartaz há um ano em teatros como José de Alencar e Dragão do Mar, sempre com sucesso de público.
Essa é a primeira de uma trilogia que o grupo pretende fazer, todas do mesmo autor. Os próximos espetáculos são Barrella e Navalha de Carne. Imperdível.
Quanto ao espetáculo propriamente dito: cenografia maravilhosa. Ambiente que simula um verdadeiro cabaré com mesas espalhadas onde o público senta e participa da ação. Uma tecladista, palco com streappers, uma delas grávida com a frase "bebê a bordo" na barriga. E não eram mulheres bonitinhas, não. A intenção é um realismo bem escrachado com prostitutas cheias de defeitos reais físicos e vídicos. Até mesmo o cheiro dava um toque há mais: conheci lá uma bebida chamada "Coleguinha Jurubeba" - tão vagabunda quanto a cachaça, mas uma delícia e de um aroma incrível que tomava conta do ambiente, foi a primeira sensação que eu tive - o cheiro adocicado da jurubeba: é isso aí, a arte precisa despertar todos os sentidos.
A Coleguinha Jurubeba que aromatizava o ambiente

A peça se passa em dois ambientes: em um primeiro plano o próprio cabaré onde prostitutas freqüentam semi-nuas e garçons(liindos) passam nos distribuindo bebidas(de verdade, e de graça!). Aí é só animação, quando então se passa a um segundo plano do quarto de três mulheres que lá trabalham e aí é só humilhação imposta por seu "patrão", que exigem que elas "trabalhem" mais, as agride e tortura.
Só tiraria alguns pontos da interpetração forçada, um tanto quanto teatral demais que poderia ser trabalhada melhor pelo diretor, que conta com bons atores- às vezes eu me confundia e pensava estar vendo mesmo aqueles personagens reais da nossa cidade - acho que eles adaptaram bastante ao nosso cotidiano, segundo depoimentos do próprio diretor e atores, fizeram um vasto laboratório freqüentando prostíbulos, casas de massagem e outras institutições do gênero. Isso enriqueceu muito a peça com linguagens reais, ações e comportamentos genuínos.
 Uma dica para as mulheres: não levem seus homens se não quiserem ter ciúmes, pois o expectador acaba interagindo com as mulheres do local de uma forma não tão agradável às mulheres ciumentas de plantão: sentam no colo, esfregam seus corpos, simulam sexo oral: peça adulta mesmo.





Aplausos finais mais que merecidos, estarei lá na continuação da trilogia, adorei conhecer o texto de Plínio.

Um comentário:

  1. Sálvia,

    queria ter postado algo dessa peca há algum tempo, mas nao poderia te-lo feito melhor do que vc. Eu também amei a peca e de certeza vou prestigiar a sequencia da triologia.

    tentei ligar hj pq vou querer pedir comida do Centro Aquariano.

    bjs

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